O Eu da Filipa

Em vez de comer a sopa o Martim andava com o prato de um lado para o outro. Temendo e antecipando um futuro próximo, disse-lhe que o melhor era ir comedo a sopa. Retorquiu: - Não te preocupes, eu sou muito bom a manusea-lo!

Habitualmente quando vamos a uma festa e queremos sair sem termos de nos despedir de toda a gente e ouvir aquele cliché: - Fica mais um bocadinho, ainda é cedo... , saimos à francesa . Ou seja, vamos embora e pronto. A partir de agora há uma nova expressão: sair à inglesa . Que significa, dizer a toda a gente que nos vamos embora e, face aos pequeninos comentários dos outros, ficar sempre mais um bocadinho até sermos dos últimos a sair da festa.

A minha mãe foi operada a uma catarata. Pedi para faltar ao trabalho para a acompanhar, como é lógico. Sábado à noite a Nôno começa a vomitar. Domingo tem diarreia. Fiz 5 máquinas de roupa. Segunda-feira não posso ficar com ela, fica o Bruno. Segunda à noite o Bruno não quer jantar e o Martim acorda para vomitar. Terça-feira vou com a minha mãe ao médico e os homens ficam em casa. Entretanto, segue-se a saga das dietas, peixinho, bolacha de água e sal, canja, creme de cenoura, sumo de maçã... Escapei eu, da maneira possível. Voltar a trabalhar soube a mel. Vou lembrar-me disto quando vier de férias.

Estamos naquela época do ano em que já só se veste um casaco de malha e sapatos mais leves. Tal requer "aquelas" meias cor de pele que as senhoras tão bem conhecem. A Nôno reparou que eu tinha calçado umas dessas e ficou muito intrigada. E comentou: - O teu pé parece um caracol! A minha cara foi de grande espanto, de quem vê todo um outfit ( palavra que descreve o que antes chamavamos de toilette) ir por água abaixo. Remendou dizendo: - Mas também pareces uma bailarina... As palavras MAS e TAMBÉM deviam implodir, porque normalmente retiram valor.

Estamos na Quaresma e hoje é sexta-feira, mas podem fazer outro dia. Vou dar-vos uma receita infalível e que não custa nada. Para os dias em que chegamos tarde e não sabemos por onde nos virar. Eu faço metade da dose e dá para os 4, por enquanto. Se tiverem adolescentes, façam toda. 1kg de carne de vaca picada 1 pacote de sopa de cebola 1 pacote de natas vegetais (1 ovo se tiverem visitas) Misturam tudo com um garfo já no pirex de ir ao forno para não sujar loiça. Fazem um género de rolinho ou um montinho bonito. Regam à volta com um bocadinho de azeite para fazer molho. Levam ao forno 180º, 25 minutos. Fica bem com tudo: esparregado, arroz, massa, etc. Eu gosto acompanhar com umas batatinhas, que vão para o forno antes da carne porque demora mais. E aproveita-se o forno estar ligado.

Há duas semanas fomos com o Martim ao dentista e quando reparámos os sapatos da Nôno estavam com a sola descolada, como a boca de um sapo. Entrei na sapataria mais próxima não fosse ela ainda cair com os sapatos assim. Havia saldos com restos da coleção de Inverno e umas sabrinas brancas e outras douradas, do seu tamanho e de Primavera. Claro está que saiu da loja de sapatos novos calçados. No dia do pai quis levar para a escola. Quando a fui buscar disse que queria colo porque lhe doiam os pés. Aquelas sabrinas não são de grande qualidade e só dá para usar em passeios curtos. Disse-lhe: - Para a escola tens de trazer sapatos mais confortáveis. - Não faz mal doer. Eu queria mostrar aos meus amigos! E pronto. Ser menina também é isto!

Todos os dias a Nôno pergunta: - Onde é que vamos hoje? O Martim responde: - Onde é que achas? Vamos à escola. - Eu estou muito cansada de ir à escola! - Onde é que queres ir? E surge um manancial de ideias: - A casa da Inês, a casa da avó, da madrinha, dos tios... quero ir ao baloiço e ao parque que tem um barco. Quero ficar em casa. Quero ir ao cinema ou ver um espetáculo. Estou muito cansada. Como eu a compreendo.

- Mamã, sabes o que é que eu faço quando não me lembro de uma coisa? - Não faço ideia! - Pergunto-me: o que faria o Martim? E descubro logo a resposta!!! - Que bela ideia. - Aprendi com a Dori.

No ano da fava de 2019 as surpresas não param de acontecer. Tínhamos uma empregada 2 vezes por mês que ajudava nas coisas piores. Ontem telefonou a dizer que não consegue conciliar com a outra actividade profissional que tem. Resolução do problema: ficar com mais esta tarefa. Arranjar alguém de confiança que queira fazer tão poucas horas é difícil e confiar a chave de casa ainda mais. Faltam 9 meses para o fim do ano. Já não falta tudo.

Esta semana foi tão exigente que Não sei se estou mais contente com o Fim da semana Ou com o Fim-de-semana.

Equanto vivi em casa dos meus pais nunca fiz praticamente nada. Desenrascava-me quando, já crescida, eles fossem passar o fim-de-semana  ou uns dias fora. Mas não há nada que a vida não ensine e a necessidade aguça o engenho. Na minha casa há 14 anos, já tive tempo de aprender. Cozinhar é uma das coisas que mais faço porque, somos quatro e, temos a sorte de comer todos os dias. E se há coisa que me encanta, é ver a minha família a comer com satisfação e os nossos filhos dizerem: - Mamã, esta comida está deliciosa! Já partilhei a receita dos Waffles. Qualquer dia partilho mais uma coisinhas básicas que faço, daquelas que saem sempre bem.

A liturgia deste 1º Domingo da Quaresma convida os cristãos a atitudes muito concretas durante este itinerário de quarenta dias. São chamados à total entrega a Deus (Dt 26,4) à invocação do nome do Senhor, para serem salvos (Rm 10,8), à vitória sobre a tentação, qualquer que ela seja (Lc 4,1).

Desde que a minha querida mãe nos ofereceu uma máquina de fazer waffles, que todos os domingos temos esta iguaria para o pequeno almoço. É uma rotina que adoro e não sou a única. Faço esta receita muito básica e sem açucar. O vídeo é um bocadinho pateta, mas o resultado é delicioso.

Ontem ao jantar, enquanto servia a fruta, o Martim diz: - Oh, Morangos?! - Sim, não te apetece? - Apetece, mas sabes que os morangos são uma fruta muito alérgica? - Mas nós não somos alérgicos! - Pois não, mas é só para saberes.

  O Carnaval já passou, A Quaresma já começou As roupas já foram lavadas e arrumadas Mas ainda há brilhantes a nascerem do chão E devo ter purpurinas para aspirar até à Páscoa Mas do próximo ano.

O nosso querido Martim foi ao dentista, que lhe disse: Vais ter de usar aparelho. Foi ontem ao oftalmonogista, que lhe disse: Vais ter de usar óculos. Está sem qualquer vontade de ir a um médico por medo de lhe prescreverem mais alguma coisa. E eu também, porque estou quase a precisar de vender um rim.

  Quando eu era pequena este dia tinha muita importância. O dia de Carnaval na escola, com os amigos. Acho que depois do Natal e do dia de aniversário, era o melhor dia do ano. A minha mãe, como enfermeira, sempre entrou cedo no trabalho e o meu pai assumiu essa responsabilidade como ninguém. Mas Carnaval exige roupa com acessórios, penteados e pinturas. Então, na noite de quinta para sexta-feira de Carnaval, sempre fui dormir a casa dos meus tios, no quarto com a Mónica. Somos da mesma idade, meninas e a minha tia tem AQUELA paciência. Mascarámo-nos de russa, dama antiga, sevilhana, fada, holandesa, madeirense... Colares, brincos grandes, batom. Digamos que era um dia em que até faltava o ar de tanto chitex . Nos restantes dias do fim-de-semana parece que já não apetecia tanto. Hoje a história é a mesma, só mudam os protagonistas.