"Somos o resultado ambulante de todas as dores, todas as desilusões, todos os erros, mentiras, omissões e fugas; todas as vezes que fomos mais e fomos menos do que gostamos de pensar que somos, somos o resultado sobrevivente - não poucas vezes a custo!- de todos os dias em que não conseguimos ser mais do que uma tentativa de não desiludir quem gosta ou gostou de nós. Muitas vezes falhamos, mas também somos muito isso. Correndo bem, conseguimos, muito de vez em quando, estar acima disso e adquirir até um certo brilho raro".
Há coisas na vida que estão certas. Que sabemos que vão acontecer. Um dia, bastante longe no tempo. Mas o tempo passa e aperta e esse dia chega quando menos queremos. Agora já não tenho Pai. Pelo menos por agora. Ficar órfão é perder uma parte de nós, da nossa identidade e da nossa história. É não ter o colo, o porto de abrigo seguro, o mimo. Perder uma palavra honesta e um conselho sábio. O nosso coração fica mirrado, apertado, a cabeça dói e o estômago arde. Terei de passar a viver das recordações, da gratidão e da memória. Na esperança de que, um dia, se torne menos difícil. E isto não significa que não tenha outros amores, mãe, marido e filhos. Significa apenas que fiquei incompleta. Não sei se para sempre, mas por agora. Até um dia.
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